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a causa das causas

sobre as identidades

O mais comum seria inaugurar este novo endereço me apresentando, tentando pintar pra você uma imagem de quem eu acho que sou. O problema é que eu mesmo não sei quem sou. Eu poderia começar anunciando o nome que me foi dado por meus pais, meu gênero e preferências sexuais, meu ofício, os lugares em que estudei, os conteúdos que penso dominar, minhas afinidades e implicâncias, minha classificação zodiacal. Nada disso realmente importa.

Há tempos venho pensando em como me libertar do fardo de carregar uma identidade construída sobre bases muito frágeis. Aqui, a única coisa que importa é que eu escrevi estas palavras e você as lê neste exato momento.

As identidades não têm substância própria, elas são auto-ficções que precisam ser performadas periodicamente (olá Judith Butler). É o ponto de capitonê lacaniano.

Além da divagação filosófica, posso dizer que fui coagidx a fazer uma cisão (severance) entre minha identidade pessoal e profissional. A corporação para a qual eu vendo minha força de trabalho monitora ativamente as atividades online de seus "colaboradores", o que virtualmente (nos termos de Piérre Levy) já limita por base minha liberdade de expressão.

A máfia corporativa sequestrou meu nome — aquele registrado pelo Estado, que no Linkedin vai ao lado de uma foto em que faço cara de confiável. Esta usurpação, embora desoladora à primeira vista, lançou-me (graças a zeus!) ao submundo da informalidade, das pequenas redes federadas, do anonimato da internet primitiva.

Sob pseudônimo posso performar livremente minhas múltiplas identidades, sem compromisso em sustentar uma narrativa falsa e linear (ou falsa porque linear) tão comum nas redes privadas dos tecno-oligarcas.

Por aqui sinto a liberdade de expressar o que realmente sou: um condensado de energias dispersas. Meu nome é irrelevante nessa história toda. Portanto, muito prazer, pode me chamar de zhanglao.

#cibercultura